Eu tenho muita dificuldade em brincar com meus filhos.
E penso nisso o tempo todo.
Me questiono muito, além de sofrer uma certa pressão social por conta do meu trabalho.
Ah sim, conto muitas histórias pra eles, invento, reinvento, mas brincar, suar com eles, tenho lá as minhas dificuldades. Meu repertório de brincadeiras é limitado. E muitas vezes estão só no plano mental. Teoria demais.
Gosto de ver brincar.
Sendo ativista do brincar e artesã de brinquedos essa questão pra mim é uma grande questão. E talvez por isso eu faça brinquedos e incentive tanto o brincar. Porque não ha outro lugar onde se brinca senão na infância. Porque para florir um adulto luminoso precisamos brincar.
Eu vivi anos acinzentados.
Tive uma infância árida, e neste deserto ví muitos cactos florirem. Por sorte!
Meu pai era homem bruto, não me dava brinquedos, porque eu os estragava e ele só jogava dinheiro fora. Ganhava sempre coisas práticas. Sapatos, mochilas e no máximo um ou outro disquinho da moda.
Minha mãe, me ensinava como arrumar bem a cama, e colocar tudo no lugar. Sem contar um histórico terrível de violência, já falei disso aqui.
Um dia um mascate bateu à porta pra vender livros. Era uma dessas coleções gigantes tipo Barsa e meu pai comprou, de brinde veio um livro muito bem ilustrado e recheadíssimo do Walt Disney. Este livro salvou minha infância. Eu não via a hora de voltar da escola pra ler e reler e reler cada história. As vezes encenava com riquezas de detalhes. Essa vivência sem dúvidas foi um grande laboratório para eu me tornar atriz e contadora de histórias.
Em casa eu não podia brincar, pra não bagunçar e nem sujar. Na escola eu não conseguia me enturmar. Eu era uma criança falante e imaginativa demais. Então eu passava os dias em topos de arvores olhando o céu, as folhas e frutos, ou fazendo castelos para as formigas, ou caminhando pelas ruas chutando pedrinhas.
Cresci e fui fazer teatro, e no fazer cênico resgatei aos poucos minha infância.
Quando me tornei mãe, cerca de 5 anos atras, me vi nesse dilema. Devo ou não brincar com meu filho? Nessa mesma época passei a fazer brinquedos e pouco antes eu já contava histórias.
O contato constante com crianças me mostrou um mundo rico, que tenho a sensação nunca ter me separado dele. Acho que em verdade não cresci! Mas os documentos de identificação não negam, nasci em 75 e portanto tenho quase 40 anos. Por sorte nasci sob o signo de Gêmeos, o signo saci, meio Peter meio Pan...
Creio sinceramente que mesmo sem ter vivenciado uma infância rica em brincar popular, eu inventei um brincar. O contato com a natureza enriqueceu meu mundo de fantasia e me deu suporte para passar pelo que passei e ainda assim continuar até hoje me encantando com a vida como se fosse sempre a primeira vez.
Claro, me falta repertório, mas me sobra imaginação. Estou aprendendo aos poucos a brincar, só peço aos meus filhos paciência com essa mãe aqui... creio que eles tem.
Segundo Nina Veiga, uma amiga querida e fonte de inspiração. O adulto não "precisa" brincar com a criança. Criança brinca com criança. Criança precisa ver no adulto uma fonte de segurança, exemplo a ser seguido e amorosidade. Mas isso não quer dizer que o adulto nunca vá brincar com a criança. Porque não? Afinal brincar é bom! Mas o que ela quer dizer a meu ver, é que nós adultos temos a responsabilidade de criar um ambiente seguro pra eles brinquem, e possam ser livres, sem que atrapalhemos esse brincar. Estar presente nas brincadeiras é mais frutífero que brincar com eles. A nossa participação só deve entrar em cena se for solicitada por eles.
Enquanto penso nisso, invento possibilidades pra que eles brinquem a vontade. Que subam, que desçam, que caiam, que corram, que inventem. Faço com gosto.
E minha criança fica feliz!
Arquivo Pessoal: O Inicio desta grande viagem. Maribel aos 12 meses. |
Este post faz parte da Blogagem comemorativa da Semana Mundial do Brincar promovido pela Aliança pela Infância, da qual sou membro e organizadora da blogagem.
Nossa blogagem será dia 24 de Maio, sexta feira, se quiser participar, basta enviar um email para barreto.maribel@gmail.com
Entre nessa ciranda!