quinta-feira, 23 de maio de 2013

Adultos Brincam?


Eu tenho muita dificuldade em brincar com meus filhos.
E penso nisso o tempo todo.
Me questiono muito, além de sofrer uma certa pressão social por conta do meu trabalho.

Ah sim, conto muitas histórias pra eles, invento, reinvento, mas brincar, suar com eles, tenho lá as minhas dificuldades. Meu repertório de brincadeiras é limitado. E muitas vezes estão só no plano mental. Teoria demais.
Gosto de ver brincar.

Sendo ativista do brincar e artesã de brinquedos essa questão pra mim é uma grande questão. E talvez por isso eu faça brinquedos e incentive tanto o brincar. Porque não ha outro lugar onde se brinca senão na infância. Porque para florir um adulto luminoso precisamos brincar.
Eu vivi anos acinzentados.

Tive uma infância árida, e neste deserto ví muitos cactos florirem. Por sorte!
Meu pai era homem bruto, não me dava brinquedos, porque eu os estragava e ele só jogava dinheiro fora. Ganhava sempre coisas práticas. Sapatos, mochilas e no máximo um ou outro disquinho da moda.
Minha mãe, me ensinava como arrumar bem a cama, e colocar tudo no lugar. Sem contar um histórico terrível de violência, já falei disso aqui.

Um dia um mascate bateu à porta pra vender livros. Era uma dessas coleções gigantes tipo Barsa e meu pai comprou, de brinde veio um livro muito bem ilustrado e recheadíssimo do Walt Disney. Este livro salvou minha infância. Eu não via a hora de voltar da escola pra ler e reler e reler cada história. As vezes encenava com riquezas de detalhes. Essa vivência sem dúvidas foi um grande laboratório para eu me tornar atriz e contadora de histórias.

Em casa eu não podia brincar, pra não bagunçar e nem sujar. Na escola eu não conseguia me enturmar. Eu era uma criança falante e imaginativa demais. Então eu passava os dias em topos de arvores olhando o céu, as folhas e frutos, ou fazendo castelos para as formigas, ou caminhando pelas ruas chutando pedrinhas.

Cresci e fui fazer teatro, e no fazer cênico resgatei aos poucos minha infância.

Quando me tornei mãe, cerca de 5 anos atras, me vi nesse dilema. Devo ou não brincar com meu filho? Nessa mesma época passei a fazer brinquedos e pouco antes eu já contava histórias.
O contato constante com crianças me mostrou um mundo rico, que tenho a sensação nunca ter me separado dele. Acho que em verdade não cresci! Mas os documentos de identificação não negam, nasci em 75 e portanto tenho quase 40 anos. Por sorte nasci sob o signo de Gêmeos, o signo saci, meio Peter meio Pan...

Creio sinceramente que mesmo sem ter vivenciado uma infância rica em brincar popular, eu inventei um brincar. O contato com a natureza enriqueceu meu mundo de fantasia e me deu suporte para passar pelo que passei e ainda assim continuar até hoje me encantando com a vida como se fosse sempre a primeira vez.

Claro, me falta repertório, mas me sobra imaginação. Estou aprendendo aos poucos a brincar, só peço aos meus filhos paciência com essa mãe aqui... creio que eles tem.

Segundo Nina Veiga, uma amiga querida e fonte de inspiração. O adulto não "precisa" brincar com a criança. Criança brinca com criança. Criança precisa ver no adulto uma fonte de segurança, exemplo a ser seguido e amorosidade. Mas isso não quer dizer que o adulto nunca vá brincar com a criança. Porque não? Afinal brincar é bom! Mas o que ela quer dizer a meu ver, é que nós adultos temos a responsabilidade de criar um ambiente seguro pra eles brinquem, e possam ser livres, sem que atrapalhemos esse brincar. Estar presente nas brincadeiras é mais frutífero que brincar com eles. A nossa participação só deve entrar em cena se for solicitada por eles.

Enquanto penso nisso, invento possibilidades pra que eles brinquem a vontade. Que subam, que desçam, que caiam, que corram, que inventem. Faço com gosto.
E minha criança fica feliz!


Arquivo Pessoal: O Inicio desta grande viagem.
Maribel aos 12 meses.

Este post faz parte da Blogagem comemorativa da Semana Mundial do Brincar promovido pela Aliança pela Infância, da qual sou membro e organizadora da blogagem.

Nossa blogagem será dia 24 de Maio, sexta feira, se quiser participar, basta enviar um email para barreto.maribel@gmail.com

Entre nessa ciranda!



quinta-feira, 14 de março de 2013

Desfralde Sem Dramas

Catarina se desfraldou sozinha!
2 anos e 5 meses. 

Por escolha optei em não tentar nenhum método de desfralde.
Minha experiência com o Francisco me mostrou que a criança sabe a hora de se desfraldar.
Ele entrou na escola com 1 ano e 7 meses, orientada pela professora iniciei o desfralde. Comprei um peniquinho, aliás a saga para se conseguir um penico simples é algo surreal. O tal penico nunca foi usado em sua finalidade, a não ser para virar carro, servir de brinquedo na hora do banho, entre outras coisas. Eu passava um bom tempo no banheiro cantando musiquinha, esperando e nada. O penico não "surtia" efeito, sentava eu no vaso, fazia cena e nada. Resolvi deixar sem fraldas para ver se o molhado do xixi incomodava e tudo que ganhei foi pilhas de roupas pra lavar.

Na ocasião eu estava grávida da Catarina. Minha falta de paciência, aliada ao cansaço e ao calor carioca, me fizeram desistir.

Eu desisti, porque estava ficando estressada demais com o assunto. Me sentia pressionada pelo social em desfraldar com sucesso meu menino.

Ponderei e levei em consideração tudo o que havia lido sobre o controle do esfincter e sexualidade.

Segui a vida de fraldas, na época só usava descartável, e deixei o tempo dizer. Troquei o penico por um assento redutor, achei mais útil.

Aos 2 anos e 4 meses ele me disse: "não quero mais usar fraldas" Ok!
Apenas o primeiro cocô escapou, depois disso, nunca mais fraldas diurnas!

Não tentei desfraldar  a Catarina. Desde que nos mudamos para nossa roça, ela brinca de fazer xixi e cocô no "mato", tirava a fralda, mas não tinha o controle de nada. Semana passada, ela pediu pra fazer xixi no vaso e não quis mais colocar a fralda. Há 15 dias está sem fralda diurna.
Com ela revesei o uso entre as fraldas descartáveis para dormir ou sair e as de pano para o dia-a-dia. Uma boa escolha inclusive! Adorei a experiência. É simples, embora não pareça. E ela adorava usar, as vezes até chorava porque não queria descartável.
O desfralde dela tem sido um pouquinho diferente. Ainda escapa aqui ou ali, mas faz parte do processo.

O bacana é ver a carinha feliz da criança ao fazer no vaso suas necessidades, ter controle naquilo que produz, na sua arte! Foi uma escolha deles. Na minha opinião, o desfralde foi um sucesso.

Sinceramente acho impositivo demais exigir da criança que se controle em nome do social. As escolas que se preparem para receberem carinhosamente crianças que usam fraldas, independente de suas idades. 

É claro que incentivar, sem pressionar o desfralde é saudável. A criança aprende pelo exemplo. Os daqui levam livros pro banheiro.

Num grupo no facebook que participo, uma das mães lançou a questão do desfralde, os cometários foram variados e ricos. Mas um eu destaco e com a devida autorização da autora,  Ana Cordeiro, transcrevo aqui o que ela resumiu pra nós lá. Achei bem coerente, e dá nome ao que sinto.

"O que eu sei do Freud – bem superficial, hein, gente, que não dá para apresentar a teoria toda aqui – tem a ver com dois pontos básicos:1. Para a criança, cocô é uma produção sua. Eles não sabem que aquilo é um troço nojento, sujo e fedido; ao contrário, é motivo de orgulho a produção de tal coisa. Meu filho por exemplo, até hoje, depois que faz cocô, mete o olhão dentro do vaso e me chama, Todo orgulhoso, pra dizer “mamãe, olha o cocozão que eu fiz!”
2. O segundo ponto é que o ânus é uma zona erógena e a retenção e expulsão das fezes são atos de prazer tanto quanto chupar o dedo ou sugar o mamá da mamãe.

É circunscrito a esses pontos fundamentais que Freud refere a importância do desfralde.
Agora é só ponderar: a criança de fralda pode fazer o cocô a hora que ela bem entende, no seu cantinho, obtendo e exercitando seu prazer muito primitivo, íntimo e pessoal. O desfralde é mudar essa condição completamente! Fazer cocô vai ter lugar, hora, tempo e jeito de fazer. Reparem na brutalidade da coisa. Fora que, muito comumente, a gente vai tratar aquele cocô como algo sujo, que deve ser jogado fora, mandado pra longe pela descarga.
É mais ou menos por aí. Pra gente é a adaptação do filho à vida civilizada, para eles é a renúncia de algo primitivo, natural e, sobretudo, prazeroso.
Mesma coisa com o desmame, só que, no meu entender, mais grave, pois “perder o peito” é perder o “objeto de amor” e perder esse objeto é “deixar de ser o objeto de amor” da mãe.
Ó, não é mole não! As crianças são uma fonte de poder, coragem, força e elaboração das muitas perdas que vão sofrendo. Aí, vai depender da maneira com que cada uma vivencia essas perdas, que as personalidades e neuroses vão sendo formadas pra vida adulta. Todo mundo passa por isso, em maior ou em menor grau: ninguém escapa!"
É isso! um desfralde bacana vai depender do como a mãe encara essa produção "artística" .

Espero sinceramente ter feito um bom desfralde. :)

Imagem: Maribel Barreto: acervo pessoal
em oferta aos meus pequenos e aos muitos pequenos pelo mundo que fazem  "arte".





terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dois Anos de Catarina Maria

Dia 22 de Setembro minha pequena Catarina Maria completou dois anos.

Na madrugada do dia 22 eu postei no meu facebook o seguinte cometário:
"Neste momento (01:30hs) eu entrava em Trabalho de Parto. Eu disse: "Não! é alarme falso" - Ele disse: "melhor ligar" - eu disse: Não... 41 semanas.quando vi o tampão, chorei. Disse: liga! nosso bebê vai nascer!Logo mais nossa parteira, companheira de viagem, chegaria e em pouco mais de 3 horas, sem dor, sem laceração, nascia nossa Catarina Maria. Há 2 anos.
Nasceu numa lua cheia, virginiana, veio quando quis, do jeito que quis. Me transformou inteira!
Trouxe consigo a primavera no raiar do dia.
Catarina menina.
Minha Flor de Maracujá."
Encerrei o dia com essa imagem:

















Não entendi na hora, mas fui dormir com algo incomodo.

Repassei a gravidez e a chegada da Catarina. 
Foram momentos difíceis pra mim!
Primeiro, porque não esperava a gravidez. A relação entrou em crise. Não me sentia bonita, nem feliz. Vivia numa profunda irritação, que variava da melancolia à explosão de raiva. 

Não quis saber o sexo do bebê, em nenhuma das gestações. Na primeira, não cheguei a questionar nada. Estava grávida e bastava. 

Na segunda eu sentia calafrios quando passava pela minha cabeça que poderia ser uma menina.
Um dia, durante uma crise emocional, minha parteira perguntou se eu tinha alguma intuição sobre o sexo do bebê. Respondi rápido: "vai ser menino também, não tenho jeito pra meninas. Sou mãe de menino!" e tentei encerrar o assunto. Ela insistiu: -"E, se for menina?" 
Fui tomada por um choro, e pela primeira vez eu consegui falar dos meus medos. 
Eu tinha medo de ser mãe de menina. Não queria!
Não achava justo nascer mulher nesse mundo covarde.
Disse o quanto eu já havia sofrido pelo simples fato de ter nascido mulher. Não queria! 
E não era menina, era menino!
Não tinha nem nome de menina. 
Ela, a parteira, mulher, também despiu um pouco de si e me deu em poucas palavras uma dose de coragem pra ser mãe de uma possível menina. Na verdade ela me deu mais. Me fez ver em mim, a menina que sou.

Eu tinha medo!

Dias depois, ouvi na escola do meu filho alguém chamar ao longe; - "Catarinaaaa", me arrepiei inteira! 
Era como se um raio tivesse caído em mim. Não tive mais nenhuma dúvida de que dentro havia uma menina e se chamaria Catarina. Na minha frente estava o Mauricio, que disse apenas: "Não gosto desse nome. Na verdade, não me  vejo pai de uma Catarina, mas a única pessoa no mundo que pode escolher o nome de um filho é a mãe. Quem sou eu? se você acha que é..." 
Não me saiu mais Catarina da minha cabeça.
Mas eu ainda não me convencia de que seria mãe de uma menina.

41 semanas de gestação de muito medo, incertezas, lágrimas, culpa, dor, solidão.

Entrei em trabalho de parto de madrugada. Por volta das 2 da madruga. Foi um trabalho de parto exatamente como eu sonhei. Rápido, sem dor. Imaginava que o francisco estaria dormindo e que o bebê nasceria e logo após ele acordava. E assim foi. 
Catarina nasceu as 05:37 do dia 22/09. Havia no céu uma lua cheia imensa e intensa.

O processo do parto começou antes, bem antes. Com 38 semanas achava que iria parir a qualquer momento. E não paria. 
Esse "não" parto, me deixava no chão. Qualquer intuição que eu tinha me levava a nenhum lugar. Já falei disso aqui.

Mas o parto da Catarina foi um presente muito especial. Apesar de todo o turbilhão que foi a gestação, eu tive um parto sem dor, sem laceração.

O parto do Francisco foi muito doloroso e eu senti muita raiva por isso, não queria que se repetisse e busquei ajuda. Pratiquei meditação, fiz yoga, dança do ventre, massagens. Dizia pra mim mesma que eu iria conseguir parir sem dor. 

E pari! 
Cada contração que vinha eu respirava, abria, deixava vir. E veio. Veio plena! 
Senti o repuxo do expulsivo.  Em três contrações ela estava nas mãos da parteira. Pouco mais de três horas de parto, e não houve dor.

Eu estava de costa e de cócoras, a Helô me pediu que virasse rápido. Quando ví que era menina, gritei bem alto: "É MENINAAAA!"
A Helô me contou depois que por um segundo quase falou antes, mas conseguiu se conter. Foi muito generoso da parte dela!

O Mauricio, desta vez ficou muito nervoso e mal conseguia participar do parto, mas por incumbência divina, a nossa doula, chegou em casa bem nesse momento, e o ajudou a chegar bem pertinho da porta do quarto. Ele a viu nascer!

Ainda estou me habituando a ser mãe de menina. Ela tem um olhar profundo. Me provoca. Adora me beijar até sufocar. Abraça. Dorme em cima de mim. 
É intensa como a sua lua de seu nascimento. Tenho aprendido muito...

Por ela trouxe flores pra casa e pros cabelos. 

Catarina Maria, minha flor de maracujá!
É uma Menina!




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