Por esse luar criador
Em troca vos ofereço
Essa canção com amor”
A avó adquiria as toalhas grandes e coloridas...
Em casa reunia os netos, pegava na gaveta a caixinha de costura e pedia:
- Vamos, escolham as linhas, enfiem nas agulhas. Escolham também uns pedacinhos de fita... da sua cor predileta, vamos escolham!
Então a avó cortava as grandes toalhas em pequenos retalhos... organizava-os em grupos de cores...
.... costurava, nas beiradinhas, os pedaços de fitas coloridas... a às vezes aplicava também uns pedacinhos de renda...
E com agulhas, com linhas escolhidas pelas crianças, bordava uma lua no centro do retalho. Em cada toalhinha uma fase da lua: nova, minguante, crescente e cheia.
Depois, com ferro de passar morno, amciava essas toalhinas e guardava-as em caixas de sapatos vazias. Arrumava-as agrupadas por cada fase da lua: ... nova, minguante, crescente e cheia.
Os meninos curiosos perguntavam:
-Vó... para que servem essas toalhinhas?
- Um dia vocês saberão... – respondia a avó.
Os meninos especulavam... especulavam, curiosamente.
Um dia, no aniversário da neta mais velha, a vó convocou os demais e convidou-os:
-Vamos presentear... ouviram? Presentear... pre...sen...tear. Cochichou baixinho em todos os ouvidos. Então, presentearam.
Tempos depois, nova convocação e a avó ordenou que as crianças prestassem atanção...
... No tanque, Marina, a neta mais velha, lavava sua primeira toalhinha...
... a água escorria toldada... rosada.
E a avó, diante das expressões curiosas nos rostos dos netos, comntou uma história:
- A lua tem suas passagens, suas fases... e assim também são as mulheres...
- Todas as meninas fazem essa passagem. De menina para moça. Na preparação do corpo para ação de fecundar. Mas precisa se cuidar... discernimento para escolher o momento. As meninas passam a ser mensalistas... renovam o sangue mensalmente... acompanhando o ciclo da lua.
E disse ainda a vó:
- Os meninos, filhos do sol, não tem essa capacidade... mas precisam ser companheiros, parceiros. As meninas precisam de suas delicadezas.
A avó repetia cerimoniosamente:
- Todas as mulheres borram as toalhinhas. Em todas as culturas... em todos os países, as mulheres borram as toalhinhas na preparação do corpo para a fecundação. As mulheres são mensalistas, acompanham o ciclo da lua nova, crescente, minguante e cheia....
A avó, a moça, os rapazes, as crianças e os adultos da casa festejaram cantando e dançando... a passagem da Marina:
“Oh!Lua eu vos agradeço...
Por esse luar criador
Em troca vos ofereço
Essa canção com amor”
Neste dia a mãe preparou um bolo e confeitou-o de um azul celestial e por cima desenhou uma lua...
O pai chegou da rua trazendo nas mãos um buquê de flores e ofertou-o à nova moça da casa. O buquê, claro, vinha com um cartão escrito assim:
“ Feliz Passagem, Feliz Mulher”
Lua Mulher, Homem Sol é uma história ordenada por Francisco Gregório Filho (contador de histórias Fantástico!), a partir da sua vivencia com sua avó Maria, em Rio Branco no Acre.