quinta-feira, 14 de março de 2013

Desfralde Sem Dramas

Catarina se desfraldou sozinha!
2 anos e 5 meses. 

Por escolha optei em não tentar nenhum método de desfralde.
Minha experiência com o Francisco me mostrou que a criança sabe a hora de se desfraldar.
Ele entrou na escola com 1 ano e 7 meses, orientada pela professora iniciei o desfralde. Comprei um peniquinho, aliás a saga para se conseguir um penico simples é algo surreal. O tal penico nunca foi usado em sua finalidade, a não ser para virar carro, servir de brinquedo na hora do banho, entre outras coisas. Eu passava um bom tempo no banheiro cantando musiquinha, esperando e nada. O penico não "surtia" efeito, sentava eu no vaso, fazia cena e nada. Resolvi deixar sem fraldas para ver se o molhado do xixi incomodava e tudo que ganhei foi pilhas de roupas pra lavar.

Na ocasião eu estava grávida da Catarina. Minha falta de paciência, aliada ao cansaço e ao calor carioca, me fizeram desistir.

Eu desisti, porque estava ficando estressada demais com o assunto. Me sentia pressionada pelo social em desfraldar com sucesso meu menino.

Ponderei e levei em consideração tudo o que havia lido sobre o controle do esfincter e sexualidade.

Segui a vida de fraldas, na época só usava descartável, e deixei o tempo dizer. Troquei o penico por um assento redutor, achei mais útil.

Aos 2 anos e 4 meses ele me disse: "não quero mais usar fraldas" Ok!
Apenas o primeiro cocô escapou, depois disso, nunca mais fraldas diurnas!

Não tentei desfraldar  a Catarina. Desde que nos mudamos para nossa roça, ela brinca de fazer xixi e cocô no "mato", tirava a fralda, mas não tinha o controle de nada. Semana passada, ela pediu pra fazer xixi no vaso e não quis mais colocar a fralda. Há 15 dias está sem fralda diurna.
Com ela revesei o uso entre as fraldas descartáveis para dormir ou sair e as de pano para o dia-a-dia. Uma boa escolha inclusive! Adorei a experiência. É simples, embora não pareça. E ela adorava usar, as vezes até chorava porque não queria descartável.
O desfralde dela tem sido um pouquinho diferente. Ainda escapa aqui ou ali, mas faz parte do processo.

O bacana é ver a carinha feliz da criança ao fazer no vaso suas necessidades, ter controle naquilo que produz, na sua arte! Foi uma escolha deles. Na minha opinião, o desfralde foi um sucesso.

Sinceramente acho impositivo demais exigir da criança que se controle em nome do social. As escolas que se preparem para receberem carinhosamente crianças que usam fraldas, independente de suas idades. 

É claro que incentivar, sem pressionar o desfralde é saudável. A criança aprende pelo exemplo. Os daqui levam livros pro banheiro.

Num grupo no facebook que participo, uma das mães lançou a questão do desfralde, os cometários foram variados e ricos. Mas um eu destaco e com a devida autorização da autora,  Ana Cordeiro, transcrevo aqui o que ela resumiu pra nós lá. Achei bem coerente, e dá nome ao que sinto.

"O que eu sei do Freud – bem superficial, hein, gente, que não dá para apresentar a teoria toda aqui – tem a ver com dois pontos básicos:1. Para a criança, cocô é uma produção sua. Eles não sabem que aquilo é um troço nojento, sujo e fedido; ao contrário, é motivo de orgulho a produção de tal coisa. Meu filho por exemplo, até hoje, depois que faz cocô, mete o olhão dentro do vaso e me chama, Todo orgulhoso, pra dizer “mamãe, olha o cocozão que eu fiz!”
2. O segundo ponto é que o ânus é uma zona erógena e a retenção e expulsão das fezes são atos de prazer tanto quanto chupar o dedo ou sugar o mamá da mamãe.

É circunscrito a esses pontos fundamentais que Freud refere a importância do desfralde.
Agora é só ponderar: a criança de fralda pode fazer o cocô a hora que ela bem entende, no seu cantinho, obtendo e exercitando seu prazer muito primitivo, íntimo e pessoal. O desfralde é mudar essa condição completamente! Fazer cocô vai ter lugar, hora, tempo e jeito de fazer. Reparem na brutalidade da coisa. Fora que, muito comumente, a gente vai tratar aquele cocô como algo sujo, que deve ser jogado fora, mandado pra longe pela descarga.
É mais ou menos por aí. Pra gente é a adaptação do filho à vida civilizada, para eles é a renúncia de algo primitivo, natural e, sobretudo, prazeroso.
Mesma coisa com o desmame, só que, no meu entender, mais grave, pois “perder o peito” é perder o “objeto de amor” e perder esse objeto é “deixar de ser o objeto de amor” da mãe.
Ó, não é mole não! As crianças são uma fonte de poder, coragem, força e elaboração das muitas perdas que vão sofrendo. Aí, vai depender da maneira com que cada uma vivencia essas perdas, que as personalidades e neuroses vão sendo formadas pra vida adulta. Todo mundo passa por isso, em maior ou em menor grau: ninguém escapa!"
É isso! um desfralde bacana vai depender do como a mãe encara essa produção "artística" .

Espero sinceramente ter feito um bom desfralde. :)

Imagem: Maribel Barreto: acervo pessoal
em oferta aos meus pequenos e aos muitos pequenos pelo mundo que fazem  "arte".





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