quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ser mulher é ...

Quando engravidei pela primeira vez, não quis saber o sexo do bebê.
Na verdade, não quis saber nem na primeira, nem na segunda gestação.
Na primeira, tanto fazia pra mim. Não tinha expectativas nenhuma.

Nasceu menino e isso me deu um alívio, que só pude perceber na segunda gestação.

Quando engravidei pela segunda vez, entrei em pânico. Não quis saber o sexo, porque tanto fazia se fosse menina ou menino. Nada iria mudar do ponto de vista gestacional.
Mas a idéia de nascer menina, me deixava em parafuso.
E sabe porque? porque acho muito difícil ser mulher.

Aqui em casa por exemplo. Somos um casal bem moderno e o marido daqui, é só um pouco machista, mas bem pouco mesmo. Diria que é uma gota homeopática bem diluída. Aceitável!
Mas ainda escuto coisas que uma feminista mais ferrenha teria vontade de cortar os culhões do pobre.

Esses dias que se passaram, foi um marco para o movimento feminino. Muitas passeatas pelo direito da mulher.
Confesso que fico confusa com tudo isso, pois antes de ser mulher, pertenço à humanidade, à especie humana e partindo desse ponto de vista, não faz sentido isso tudo.

Aqui em casa, eu cuido do lar e das crianças. Sou dona de casa, e muita gente pergunta se trabalho. Claro que trabalho e muito, mas será que essa pergunta merece resposta?

Quando paramos pra analisar toda a história da humanidade e procuramos pelas vozes das mulheres, ficamos perplexos com as atrocidades que se cometem com o gênero. Sem contar o nível de desconexão que vivemos hoje com o feminino.

Voltando aos assuntos domésticos.
Acho natural um homem lavar louça.
O daqui lava. Mas ele é melhor que outros que não lavam ou não fazem nada em casa? Não!
Como diria minha vó: "não faz mais que sua obrigação!"
Porque os afazeres domésticos precisam ser divididos com o marido, pelo simples fato de que o marido mora naquela casa e não na outra.
O fato do marido trabalhar fora o dia inteiro, não tira a obrigação dele ajudar na casa e com os filhos.
Quando a gente casa, a gente junta trapos e sonhos. E no meio de tudo isso estão os filhos e a casa.
Se um faz mais que o outro, tem algo errado!
Não é pelo fato de  que eu fico o dia todo em casa que não estou faço nada.
Trabalho doméstico é exaustivo, porque é repetitivo. Não pára nunca! Um horror!
Dia desses ouvi sem cerimônia da boca do marido, que reclamo disso porque ainda não entendi o papel da mulher.
O quê???? hummmm ...
Ando pensando em leiloar uns culhões.
...
...

Pensando bem, vou deixar a poeira baixar e repensar essa história do leilão, pois isso implica em outras perdas.

Mas abriu pra mim um leque de questões e muita conversa. Aos pouquinhos a gente vai dando o tom da prosa.

Ficar em casa cuidando do lar, no atual contexto da humanidade é muito confuso.
Porque para ficar em casa, abri mão de muitos sonhos e desejos.
Isso pesa no final do dia.
Eu, muitas vezes me pego pensando se fiz a melhor escolha.

Quero dizer que não me sinto nenhum pouco à vontade em escrever sobre esse tema, porque não me sinto feminista. Aliás eu não entendo esse conceito direito.
Mas se for olhar bem a fundo o que quer dizer tudo isso e porque as mulheres vão pras ruas, sou sim muito feminista e é por isso que também vou pras ruas e que milito, mesmo que dosadamente.

Pode ser que nesse texto tenha traços machistas, mas culturalmente não encontro respostas pra muitas das minhas angústias feminina. E sou fruto do meio, por mais que eu me esforce pra ser peixe e saber nadar nessa maré, não consigo ir muito longe.

Por essa e outras razões é que tinha pânico de ter menina.
Porque ela também vai ser mulher num território machista. Porque por mais que eu a ajude a se entender como fêmea, ela vai ser julgada pelo ponto de vista machista.

Adianto que não tenho nenhum problema com o meu feminino.
Ao contrário, apesar de tudo que já passei, sou bem resolvida.
Amo muito estar viva como espécie humana do sexo feminino.

Se vivo esse dilema todo, tendo como companheiro esse cara que acho genial, imagino o que passam outras mulheres em noutros contextos. É barra!

Ontem lí uma notícia que dizia que os direitos da mulher foram moedas de troca no texto da Rio +20 (leia aqui).
Assim caminha a humanidade à passos lentos, modorrentos e embolorados.

sábado, 16 de junho de 2012

Num dia sem eira nem beira. A vida pode ser muito mais!

Domingo passado fomos passear pela vida.
Depois daquele feridão chuvoso e marido viajando, estávamos precisando relaxar.

Fiquei tão feliz com a repercussão do meu depoimento! (leia aqui) Não imaginava. 
Recebi muitos emails com relatos parecidos. Vi que minha experiência é a de muitas. Mais uma vez pude comprovar que a vivência do outro nos ajuda a elaborar as nossas.

Esse assunto era tabu pra mim, ao menos aqui no blog. Tinha medo de expor tamanha ferida e ser julgada. Confesso que, esse medo da exposição só veio depois de virar mãe e ser a mulher do meu marido. Porque meu marido é aquele moço discreto, que tem sempre a fala certa na hora certa. Já eu... bem eu falo pelos cotovelos e só consigo elaborar meus dilemas falando e muito sobre eles.

Esse caso de abuso já é assunto superado em certo aspecto. Tenho uma vida sexual ativa e prazerosa. E tenho boa relação com meu corpo. Fruto de muita terapia.

E meu conselho pra quem tenha vivido esse tipo de trauma é: não tenha medo de buscar ajuda. vale tudo pra superar e ter a vida mais plena.

Eu ainda tateio em alguns pontos no quesito maternidade. Mas depois de ter falado disso aqui, saiu um fardo das minhas costas. 
Essa semana foi muito difícil pra mim, pois estou no momento vivendo um grande dilema. E com tudo o que está se passando, não perdi a cabeça em nenhum momento. Até as crianças estão mais calmas.
Estou muito orgulhosa de mim! 

Parece que renasci. Em parte foram vocês que me ajudaram, pois seus relatos me ajudaram a ver que não estou sozinha nessa. Relatar aqui, me fez me ver.

Tenho refletindo muito sobre o que li. 
Grata! Muito grata pela força de vocês. 
E desejo coragem para vencerem os seus traumas.


E no domingo pós feriado a gente tomou café da manhã na casa de uns amigos e depois fomos andar sem eira, nem beira. Dia meio nublado e tal, procuramos um lugar diferente pra almoçar e nada, mas nada mesmo nos apetecia. Passamos numa pizzaria, compramos uma gigante e rumamos pro Mirante dona Marta. Lá no heliponto comemos nossa pizza  tendo a vista mais impressionante do Rio.

Fiquei admirando essa bela cidade e pensando no quanto fui feliz aqui e do quanto a vida é uma grata surpresa. Eu. Euzinha estava ali almoçando com minha família. Com o homem que amo, e com os filhos que temos juntos. Eu sorria á toa! 

O Francisco logo inventou de rolar numa grama que tinha por lá, e passaram os dois, Catarina e ele, horas rolando ribanceira abaixo gargalhando!

No carro o Francisco perguntou porque eu não quis rolar com eles, nem soube direito o que responder e antes que eu conseguisse, ele mesmo concluiu: você queria rolar com a gente mãe. Amanhã quando a gente voltar você rola, tá? Tá, meu filho.

De fato eu queria rolar com eles e não fui porque meu senso de imagem pública não autorizou. Da próxima vez rolarei ribanceira abaixo, só pra relembrar com é. Só pra ter história pra contar. Só pelo gosto de ver sorrir meus filhos.

Vou. Juro que vou!


sábado, 9 de junho de 2012

Educar sem bater, a outra face....

A lei é clara e necessária.
Bater em criança é crime.

Desde de que a lei da palmada foi criada, tenho visto pelas redes muita gente se levantar a favor da lei. Mas nunca consegui escrever sobre esse assunto aqui. O assunto é polêmico, e necessário.

Eu sou a favor! E mais, luto contra os meus próprios fantasmas.

Sempre me imaginei mãe amorosa e cuidadosa. Pensava que jamais iri bater em filho meu.
Me enganei!
E sofro muito com isso.

Os piores anos da minha vida foram da infância até a adolescência. Vivi muitas formas de violência física, verbal, moral e até sexual. Na fase adulta não conseguia me desvincular de namorados machistas e violentos e isso me causava horror. Procurei ajuda em terapias, aconselhamentos, grupos de apoio, espiritualidade e tudo que se possa imaginar. E foi numa sessão de terapia aos quase 30 anos que descobri que eu havia sido estuprada aos 18, e foi noutra sessão de terapia que me lembrei que aos 8 meu pai também abusou de mim.
Minha mãe bebia e me jogava contra  a parede gritando coisas horríveis, eu era o bode expiatório dos meus pais e mais tarde do meu padrasto. Vizinhos e familiares viam tudo isso e não faziam nada. Criança, andava pelas ruas a noite sozinha, as vezes machucada, com medo de voltar pra casa.

Já tive muita raiva dessas pessoas. Hoje eu as compreendo!

Meu pai, perdeu a mãe ao nascer, homem bruto, analfabeto.
Não sei muito mais que isso sobre ele.

Já minha mãe, filha mais velha de muitos irmãos, teve vida muito difícil.
Meus avós eram estrangeiros. A família da minha avó foi expulsa da Ucrania/Russia pelos alemães. No Brasil perdeu sua mãe, e seu pai a doou pra  um senhor de terra que a vendeu pro meu avó, alemão. Tiveram oito filhos vivos. Meu avó batia em todos eles.
Minha mãe fugiu de casa aos 13 pra viver.
Com meu padrasto não foi muito diferente.

Hoje eu compreendo minha família!
Como é que eles poderiam ser diferentes comigo?
O que me distancia disso é que comecei cedo meu processo de busca.
Mas, não entendo como as pessoas conseguiam ficar caladas?
Poucas delas me defendiam, e também não iam muito além de me oferecerem um copo dágua.

Eu também sai de casa aos 17 pra viver.
Foi minha última surra. Quando voltei aos 25 meu padrasto tentou me bater e eu chamei a policia. Abri um processo e ele teve de pagar durante uma ano, uma cesta básica por mês pra uma família carente. Nunca mais falamos sobre o assunto, mas tudo mudou depois disso.
A ponto de ele pagar parte do meu primeiro parto domiciliar.
Acho isso simbólico. Libertador!

Eu sou uma mãe amorosa e cuidadosa, mas com pavio curto.
Não espanco meus filhos, mas perco fácil a paciência e grito, outra forma de violência.
Já bati, não tanto quanto eu apanhei. Mas o suficiente pra me colocar no lugar de alerta.
Todo dia trabalho duro pra minha sombra não escurecer a infância dos meus filhos. Tenho conseguido bons resultados.

É tema recorrente de terapia. Eu tenho consciência do problema, e isso me coloca num lugar privilegiado. Não estou ás escuras repetindo um padrão. Estou alumiando!

Agora eu pergunto: como é que essa lei pretende apoiar os pais que já foram violentados? Até agora eu não vi nada sobre isso.
Já pesquisei sobre grupos de apoio a pais e mães que foram crianças violentadas e só encontrei em Portugal. Se houver no Brasil grupos assim, por favor me avisem, me interessa. Acho que meu relato pode ajudar outras famílias.

A lei é necessária. Quando lembro que o ECA tem pouco mais de 18 anos, penso que teria sido diferente minha vida se ele fosse mais antigo. Talvez alguém tivesse tido a coragem de denunciar.

A violência contra a criança e a mulher no nosso país é corriqueira, temos ainda muito o que caminhar e lutar. Temos que desenvolver muita compaixão pra poder ensinar aos brutos que violência gera violência.
Arquivo Pessoal.
Eu, minha irmã e minha mãe. Carnaval 1985.

Hoje, eu tenho boa relação com minha mãe. Ter me tornado mãe, me aproximou muito dela. Reconheço suas feridas e deixo claro isso pra ela.

As vezes ela me dá "conselhos" que caio dura pra traz. Respiro fundo e falo  com o coração aberto o quanto sofri e que busco outro caminho pros meus filhos.
Dá trabalho! Mas esta valendo a pena.
Dia desses ela me falou que admira muito o meu jeito. Ganhei um bolão!

Com as crianças, deixo claro que estou aprendendo, e que estamos juntos. Agradeço a eles a oportunidade de ser cada dia melhor. O diálogo é o melhor caminho.

E com você? É difícil falar de violência?

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